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COMUNIDADE CATÓLICA DE MINECRAFT - A UMA DÉCADA A SERVIÇO DA IGREJA

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Que o Senhor o conserve por muitos anos de vida, felicidade na terra e com zelo o proteja contra a maldade dos seus inimigos

Carta Apostólica | Discite a me


IOANNES PAVLVS EPISCOPVS,
SERVVS SERVORVM DEI

 CARTA APOSTÓLICA
DISCITE A ME

DO SUMO PONTÍFICE 
JOÃO PAULO
SOBRE A ENGENHARIA DA FORMAÇÃO
DOS PASTORES

AD PERPETVAM REI MEMORIAM

1. «Aprendei de mim» (cf. Mt 11,29), diz o Senhor, nos chamando a uma configuração completa e perfeita ao seu Coração. Diz também Ele que nos há de enviar pastores segundo o seu Coração (cf. Jr 3, 15): quem são? Como agem os pastores que foram chamados pelo Coração de Jesus? Eis que vos escrevo esta carta para lhes admoestar e apontar qual é a engenharia do pastor. Engenharia porque, independente do estilo arquitetônico, toda casa precisa seguir as mesmas leis da engenharia. Da mesma forma, independente do carisma e da personalidade dos que são chamados, todos os pastores devem ser formados segundo o Coração de Cristo, configurados ao seu amor e sua forma de agir e transformar.

2. Que, ao meditar sobre este tema, possais estar atentos às palavras que vos dirijo. No entanto, antes de ler, peço-vos que se ponham em postura orante. Peça ao Senhor que envie o seu Espírito para que estas palavras não fiquem somente escritas neste, mas gravadas no Coração (cf. Dt 6, 6-9). 

A importância da configuração na engenharia para os pastores

3. Se nos dispuséssemos a procurar Deus nos nossos filhos, saberíamos como agir e como educar. Somos povo sacerdotal, somos eleitos como filhos adotivos, por graça de Deus, através de Cristo, nosso irmão e Senhor. Cada um de nós deve ter consciência que estamos no mesmo barco, apesar de distintas funções. É uma pena quando encontramos pastores irmãos que, por serem agraciados com o chamado de Deus, sentem-se melhores que outros. Lembrem-se que, “embora fosse de divina condição, Cristo Jesus não se apegou ciosamente a ser igual em natureza a Deus Pai. Porém esvaziou-se de sua glória e assumiu a condição de um escravo, fazendo-se aos homens semelhante” (cf. Fl 2, 6-7). Assim, quem somos nós tão pequenos fazendo-nos tão grandes, se aquele que é o grande se fez pequeno? Se assim agimos, infelizmente, somos anticristos – pessoas que dão contratestemunho do que falam. 

No Coração de Jesus, o Amor perdoa

4. O Coração de Jesus é a fonte inesgotável de virtudes para os pastores. Onde poderiam encontrar tal bebida que desse força como o sangue e água que jorram do Seu Coração ? Perfurado pela descrença humana, o Coração do Mestre é perfurado pela lança da incredulidade. Como diz o Papa Francisco, em sua recente encíclica Dilexit nos, “seu coração aberto precede-nos e espera-nos incondicionalmente, sem exigir qualquer pré-requisito para nos amar e oferecer a sua amizade: Ele amou-nos primeiro (cf. 1 Jo 4, 10). Graças a Jesus, «conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16)”. 

5. O mesmo lado aberto seria tocado novamente por Tomé e com a mesma incredulidade que outrora O feriu na cruz (Jo 20, 24-31). Esta mesma ferida é tocada todas as vezes que tentamos Jesus quando não o percebemos no nosso irmão. Jesus está presente em todo homem e, especialmente naquele que está em estado de graça, inabita junto com o Pai e o Espírito. Lembremo-nos que o corpo é templo do Espírito e, dessa forma, devemos sempre instigar no nosso e no coração dos outros a compaixão. 

6. Olhar para uma ovelha desvirtuando-a por um só ato mal que ela praticou é um erro. Assim como não se pode dizer que o feijão é ruim porque achamos alguns grãos que não são bons, mesmo que seja uma grande parte, não se compreende ninguém por uma transgressão, mesmo que sejam grandes as feridas deixadas. 

7. Como são terríveis os pregadores do perdão que não perdoam ninguém! Como são hipócritas os que falam de liberdade quando estão presos num passado triste! Coragem, irmãos! Sejam mais parecidos com Deus que, como aquele pai que acolhe o filho apesar de ter pedido e gastado toda a sua herança nas ilusões, nos prazeres da vida, ferindo o coração paterno. Da mesma forma, o Coração de Cristo também é ferido, mas dessa ferida não flui o rancor de vingança, mas o Amor-Caridade que tudo cura e tudo explica.

A medida justiceira do mundo

8. Misericordes sicut Pater – devemos ser misericordiosos como o Pai. Cristo nos ensina que com a mesma medida com que medirmos, também nós seremos medidos (cf. Mc 4,24), e mais: «assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles façam a vocês» (Mt 7,12). No entanto, muitas vezes, nós usamos uma medida muito dura uns para com os outros. Nós medimos o outro com uma régua muito extensa, somos exigentes, somos cada vez mais duros. 

9. A nossa medida é a medida do mundo, e a medida do mundo não é justa, mas é justiceira, ou seja, aquela que nasce do egoísmo do coração humano, do orgulho, do sentimento humano, que quer ser duro demais com os outros e complacente consigo mesmo. E assim nós estamos fazendo, o pecado dos outros nós condenamos, rechaçamos, espalhamos aos quatro ventos; ao nosso pecado, fazemos vistas grossas, damos uma dimensão menor, chamamos de fraqueza, e aí vamos vivendo a injusta medida, que é a medida do mundo . Ai de nós se Deus já agisse conosco hoje como nós agimos com o irmão! 

10. Não estou dizendo que devemos relevar tudo o que nos acontece, mas perdoar. Perdoar demanda tempo e muita caridade. Quanto mais amor, mais capacidade de perdoar. O Coração de Deus sabe perdoar, porque ama incondicionalmente. Só não recebe seu perdão quem nega a sua ajuda e se afasta sua graça. 

Sinônimo de amor é perdoar

11. Amar sempre e perdoar sempre faz parte da vida do santo cristão. Veja o exemplo de São João Paulo II, que, como Cristo, usou de infinita misericórdia com seus inimigos. Era dia da Virgem de Fátima, dia 13 de maio de 1981, quando João Paulo II foi cruelmente baleado em plena Praça de São Pedro. Atingido por um terrorista turco, Mehmet Ali Ağca, João Paulo II foi baleado duas vezes e sofreu perda de grande quantidade de sangue. O terrorista imediatamente foi detido e condenado à prisão perpétua por um tribunal italiano . No entanto, o Papa fez algo que para a natureza humana foi impensável – o que chamamos verdadeiramente de Ato Heroico – mas que para natureza divina não é somente possível, mas normal: perdoou. O perdão de São João Paulo II é fruto da fundição do seu coração com o Coração de Deus. Por isso, por amor, perdoou-o. Dessa forma, quando aprendemos a amar, naturalmente nesse “box”, também aprendemos a perdoar.

12. Tantos e tantos exemplos nos são visíveis! Tantos santos que deram o belo exemplo do perdão! E como é bela a nossa vocação – que é, também, como eles, sermos santos. Esta grande dádiva Cristo nos deu: de sermos chamados filhos de Deus e herdeiros do seu reino. Esse amor que tanto nos ama, que tanto nos perdoa, que tanto nos corrige por amor, é o mesmo amor ao qual somos chamados a nos fundir. 

A cura do perdão

13. Além do mais, devemos ver o quão bem faz o perdão à alma que se propõe a amar de tal forma a doar a sua vida pelos infelizes. Mas, antes, devemos saber nos perdoar. A cura tem seu início quando vemos a nossa vida tal como ela é. E, nessa sinceridade, sendo humildes, nos coloquemos de joelhos ao Senhor, pedindo seu perdão. Pedindo a Ele, façamos também o perdão a nós mesmos. Quantas vezes empacamos nos nossos erros! Quantas vezes a nossa vida não chega à santidade porque estamos presos num abismo. É como o homem que caiu num poço fundo, mas não consegue sair porque está preocupado com a lama de seus pés. Não há como sair do fundo do poço sem olharmos para cima, pensando em formas de sair. No nosso caso, a única maneira de sair do poço, seria pedindo ajuda de alguém – e nós já devemos saber quem é esse certo alguém. No entanto, deixemos essa reflexão mais para frente. 

14. Voltando ao caso, é importante que nos perdoemos e deixemos de olhar para a lama de nossos pés. E, a partir dessa cura que a graça atua na noss’alma, nos disponhamos a também viver esse perdão que nos restaurou com os nossos irmãos. Amai-vos uns aos outros assim como Ele vos amou (cf. Mt 22, 37). Aqui podemos interpretar que esse amor é aquele da cruz – uma bela e saudável interpretação. No entanto, o Senhor não falava nesse sentido. Na interpretação histórico-crítica (exegética), Jesus falava do amor maestral – o amor que outrora ensinava-os a amar. Ora, nesse momento, Jesus ainda não tinha sido elevado na cruz – era a santa ceia. Nesse sentido, o amor que Deus nos chama a praticar é o Amor-Caridade que ensina. E quão é importante ensinar a amar e perdoar! 

O dever de ensinar a amar e perdoar

15. Sabendo da importância de aprender a amar com Cristo, devemos entender que o próximo passo é imprescindível: ensinar a amar e perdoar. Primeiro, bebemos da fonte, depois, damos de beber a outros. Como podemos ensinar os nossos filhos a amar se sequer os amamos? Não é possível. 

16. Pastores, tomem cuidado! Não é a mão de ferro que educa o seu clero, mas o coração de carne – aquele coração que se assemelha ao de Cristo. Se alguém lhe dá trabalho, trabalhe com ele; se alguém lhe critica por seus atos, examine sua consciência: se ages como Cristo, continue, se não, mude e configure-se. Se lhe batem apesar de estando certo, dê-lhe a outra face. Mas isso não é ser louco ou desleixado? Não. É ser evangélico.  

17. Tomem coragem de mudar. Dizem: “Ai daqueles que me criticam, não mudarei aquilo que sou”. Cuidado. Se não vigiares, amornecereis. E quem é morno, o Senhor vomitará. Sede mansos e humildes e, se necessário for, mudem. Mudar nem sempre é negar quem você é, mas é, muitas vezes, renunciar-se a si mesmo, tomando sobre si a figura de Cristo, configurando-se a Ele.

18. Amem as suas ovelhas e não somente administrem. E, como dizia o Padre Zezinho, verás que o amor aplaude, mas educa o vencedor, que o amor perdoa, mas educa o pecador. O amor é o caminho e é a meta. Não pensem que a missão de vocês aqui é outra: é tão somente amar. Quem ama, sabe o que e como fazer. Afirmo, logo, com veemência que parem de se acharem donos das ovelhas. Parem de demonstrar uma autoridade construída no rigorismo, na apatia. A verdadeira autoridade é aquela mesma com qual Cristo falava. Jesus não era um ditador. Quem são vocês, tão miseráveis, que se acham os poderosos? Que Deus derrube os pastores poderosos de seus tronos (cf. Lc 1, 52). 

19. Infelizes são vocês se ouvem e afirmam tudo o que diz Jesus e nada praticam do que falou. Tolos e loucos são os que fazem dessa comunidade um antro de conquistas: brincadeira de criança. Tenham a coragem de seguir em frente dizendo não às vossas vontades para abraçar a do Senhor. Quantas vezes eu fui criticado por amar os meus padres e ajudá-los a melhorarem com caridade! Fui chamado de passivo, de fraco, de insosso. Mas o que me importava eram elas: as minhas ovelhas. Obrigado, Senhor, por me fazer resistir às contrariedades! Afinal, todo esse amor partiu de Ti.

20. Portanto, sejam solícitos para com vossas ovelhas. Deixem de olhar para elas como um capital, como meros indivíduos. Abracem elas uma por uma e, quando Deus vier lhe julgar, sentirá o cheiro delas entranhado nas suas roupas. Quão feliz será este pastor que, apesar da sujeira de suas ovelhas, pastoreou-as com o coração. Suave odor do pecador que se converte, do infiel que começa a cumprir suas palavras, do faminto que agora tem alimento – e alimento eterno – do preso que foi libertado, do nu que foi revestido da graça!

21. Entre vós seja sempre semeada a alegria de amar, a esperança de sonhar e a beleza de ter fé. Que Deus nos ajude para seguirmos caminhando na paz, apesar das dificuldades que encontraremos.

Roma, Palácio Apostólico, 27 de novembro de 2024. 

Ioannes Pavlvs Pp. VI
Pontifex Maximvs