ADHORTATIO APOSTOLICA
SUMMI PONTIFICIS
BENEDICTI PP. VIII
“USQUE IN FINEM”
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BENEDICTUS EPISCOPUS
SERVUS SERVORUM DEI
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS
SOBRE A PERSEVERANÇA
“Manete in dilectione mea!”
(Jo 15,9)
[PT]
1. A palavra do Evangelista Mateus ressoa como uma advertência e, ao mesmo tempo, como uma promessa: “Aquele que perseverar até o fim (Usque in Finem), esse será salvo” (Mt 24,13). Nela encontramos condensada a exigência fundamental da vida cristã: não basta começar bem, é necessário permanecer fiel até o fim. A perseverança é a marca daqueles que acolheram a graça de Deus e a deixaram amadurecer ao longo do caminho. Esta exortação busca refletir sobre a origem da perseverança, sua raiz bíblica, sua compreensão teológica e o desafio de vivê-la no cotidiano da fé.
2. A perseverança não nasce apenas da força humana, mas antes é dom de Deus. O apóstolo Paulo, ao escrever aos Filipenses, recorda: “É Deus quem realiza em vós tanto o querer como o agir, segundo o seu desígnio de amor” (Fl 2,13). Isso significa que a capacidade de permanecer firmes provém da graça que sustenta. Contudo, não é um dom que nos torna passivos: Deus age em nós, mas espera a nossa cooperação. Perseverar é, pois, fruto de uma aliança entre a graça divina e a resposta humana.
3. A raiz da perseverança está no próprio Cristo, que suportou até a cruz, vencendo a tentação de desistir: “Corramos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12,1-2). Assim, a perseverança é participação no mistério pascal de Cristo: permanecer firmes no amor até que Ele seja tudo em todos.
4. As Sagradas Escritura nos oferece uma pedagogia da perseverança. No Antigo Testamento, os profetas são testemunhas de fidelidade diante das perseguições. Jeremias, por exemplo, resistiu apesar das incompreensões, sustentado pela chama interior da vocação (cf. Jr 20,7-9). Os salmos, por sua vez, repetem a súplica de quem, mesmo na angústia, se mantém confiante: “Espero no Senhor, minha alma espera, e confio na sua palavra” (Sl 130,5).
5. No Novo Testamento, a perseverança é uma constante. Jesus compara a fé a uma semente lançada em diferentes solos: apenas aquela que cai em terra boa e permanece dá fruto (cf. Mt 13,23). Nos Atos dos Apóstolos, a perseverança aparece na vida comunitária: “Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42).
6. São Paulo fala da perseverança como fruto da esperança: “A tribulação produz a paciência, a paciência forja a virtude comprovada, e a virtude comprovada gera a esperança” (Rm 5,3-4). A perseverança, portanto, não é obstinação cega, mas confiança firme de que o amor de Deus não falha. No Apocalipse, a perseverança é identificada como característica dos santos: “Aqui está a perseverança dos santos: aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14,12). O testemunho dos mártires, que preferiram a morte a renegar a fé, é a expressão suprema da perseverança até o fim.
7. Desta forma a perseverança se situa no campo da esperança cristã e sua tradição. Agostinho, recorda que ninguém pode garantir, por si mesmo, a fidelidade até o fim; é necessário pedir continuamente o dom da perseverança final. Perseverar é um dom particular da graça, que nos é concedido na medida em que permanecemos abertos ao amor de Deus. A perseverança pode ser vista como uma virtude anexa à fortaleza. Ela não consiste apenas em suportar provações, mas em manter firme o propósito do bem, resistindo às tentações que poderiam nos afastar do caminho. A teologia reconhece, assim, que a perseverança é mais do que resistência: é continuidade no amor, sustentada pela graça e exercida pela liberdade humana.
8. Sendo assim, a Igreja, peregrina neste mundo, caminha entre perseguições e consolações de Deus, e que os fiéis devem permanecer firmes, aguardando o dia em que a obra de Cristo se consumará (cf. LG 48). A perseverança, portanto, não é apenas individual, mas também eclesial: é toda a Igreja que é chamada a permanecer fiel, mesmo quando enfrenta crises, divisões ou perseguições.
9. A vivência da perseverança no cotidiano, significa viver a fé como caminho contínuo, e não como momento isolado. O discípulo não é aquele que começa, mas aquele que permanece. A perseverança se expressa em atitudes concretas. Na oração perseverar é rezar mesmo quando parece que Deus está em silêncio, mantendo a confiança de que Ele nos escuta (cf. Lc 18,1). Na caridade perseverar é amar de forma constante, mesmo quando o amor não é correspondido, pois o amor cristão é reflexo do amor de Cristo, que não desiste de nós. Na comunidade perseverar é permanecer unidos à Igreja, mesmo quando há fraquezas humanas e escândalos, porque é nela que Cristo continua a agir e salvar. Na esperança perseverar é manter viva a certeza de que o bem tem a última palavra, mesmo em meio às tribulações da história.
10. Chamo atenção a um ponto importante, a perseverança não é ausência de quedas, mas a capacidade de levantar-se sempre, o cristão não é quem nunca cai, mas quem sempre se levanta, confiando na misericórdia de Deus. Caríssimos, a perseverança é caminho de santidade e garantia de salvação. O Senhor nos adverte, muitos podem começar o caminho da fé, mas somente aqueles que permanecem até o fim colherão a plenitude da vida. Não se trata de medo, mas de responsabilidade e confiança.
11. O tempo atual nos desafia, vivemos num mundo marcado pela pressa, pelo descartável, pelo efêmero. Tudo parece passageiro, e muitos abandonam o caminho diante das primeiras dificuldades. Por isso, perseverar é um testemunho “contracultural”, é afirmar que o amor de Deus é firme e que vale a pena permanecer nele até o fim.
12. Que cada cristão assuma o compromisso de pedir diariamente a graça da perseverança. Que cada comunidade se torne lugar de apoio, de encorajamento e de esperança, onde ninguém se sinta sozinho em sua caminhada. E que, sustentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela comunhão fraterna, possamos perseverar até o dia em que, unidos aos santos, contemplaremos o Senhor face a face.
13. Deixemo-nos guiar pela promessa do Evangelho: “Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,13). Não desanimemos diante das provações, não cedamos às tentações do abandono, mas mantenhamos os olhos fixos em Jesus, que é a nossa esperança. Nele encontraremos a força de permanecer, a alegria de esperar, certeza da salvação e esperança no amor.
[ES]
1. La palabra del Evangelista Mateo resuena como una advertencia y, al mismo tiempo, como una promesa: “El que persevere hasta el fin (Usque in Finem), éste será salvo” (Mt 24,13). En ella encontramos condensada la exigencia fundamental de la vida cristiana: no basta comenzar bien, es necesario permanecer fiel hasta el fin. La perseverancia es la marca de quienes han acogido la gracia de Dios y la han dejado madurar a lo largo del camino. Esta exhortación busca reflexionar sobre el origen de la perseverancia, su raíz bíblica, su comprensión teológica y el desafío de vivirla en el cotidiano de la fe.
2. La perseverancia no nace solamente de la fuerza humana, sino que es un don de Dios. El apóstol Pablo, al escribir a los Filipenses, recuerda: “Es Dios quien realiza en vosotros tanto el querer como el obrar, según su designio de amor” (Fl 2,13). Esto significa que la capacidad de permanecer firmes proviene de la gracia que nos sostiene. No obstante, no es un don que nos hace pasivos: Dios actúa en nosotros, pero espera nuestra cooperación. Perseverar es, por tanto, fruto de una alianza entre la gracia divina y la respuesta humana.
3. La raíz de la perseverancia está en el mismo Cristo, que soportó hasta la cruz, venciendo la tentación de desistir. El autor de la Carta a los Hebreos exhorta: “Corramos con perseverancia la carrera que tenemos por delante, con los ojos puestos en Jesús, autor y consumador de la fe” (Hb 12,1-2). Así, la perseverancia es participación en el misterio pascual de Cristo: permanecer firmes en el amor hasta que Él sea todo en todos.
4. La Escritura nos ofrece una pedagogía de la perseverancia. En el Antiguo Testamento, los profetas son testigos de fidelidad ante las persecuciones. Jeremías, por ejemplo, resistió a pesar de los incomprensiones, sostenido por la llama interior de la vocación (cf. Jr 20,7-9). Los salmos, a su vez, repiten la súplica de quien, incluso en la angustia, se mantiene confiado: “Espero en el Señor, mi alma espera, y confío en su palabra” (Sal 130,5).
5. En el Nuevo Testamento, la perseverancia es una constante. Jesús compara la fe con una semilla sembrada en diferentes suelos: solo aquella que cae en tierra buena y permanece da fruto (cf. Mt 13,23). La parábola nos recuerda que el desafío no es solo acoger la Palabra, sino dejar que eche raíces profundas. En los Hechos de los Apóstoles, la perseverancia aparece en la vida comunitaria: “Eran perseverantes en escuchar la enseñanza de los apóstoles, en la comunión fraterna, en la fracción del pan y en las oraciones” (Hch 2,42).
6. San Pablo habla de la perseverancia como fruto de la esperanza: “La tribulación produce paciencia, la paciencia virtud probada, y la virtud probada esperanza” (Rm 5,3-4). Por lo tanto, la perseverancia no es obstinación ciega, sino confianza firme de que el amor de Dios no falla. En el Apocalipsis, la perseverancia se identifica como característica de los santos: “Aquí está la perseverancia de los santos: los que guardan los mandamientos de Dios y la fe en Jesús” (Ap 14,12). El testimonio de los mártires, que prefirieron la muerte antes que negar la fe, es la expresión suprema de la perseverancia hasta el fin.
7. De esta manera, la perseverancia se sitúa en el campo de la esperanza cristiana. Agustín recuerda que nadie puede garantizar por sí mismo la fidelidad hasta el fin; es necesario pedir continuamente el don de la perseverancia final. Perseverar es un don particular de la gracia, que se nos concede en la medida en que permanecemos abiertos al amor de Dios. La perseverancia puede verse como una virtud anexa a la fortaleza. No consiste solo en soportar pruebas, sino en mantener firme el propósito del bien, resistiendo las tentaciones que podrían alejarnos del camino. La teología reconoce, por tanto, que la perseverancia es más que resistencia: es continuidad en el amor, sostenida por la gracia y ejercida por la libertad humana.
8. Así, la Iglesia, peregrina en este mundo, camina entre persecuciones y consolaciones de Dios, y los fieles deben permanecer firmes, aguardando el día en que la obra de Cristo se consumará (cf. LG 48). La perseverancia, por tanto, no es solo individual, sino también eclesial: toda la Iglesia está llamada a permanecer fiel, incluso cuando enfrenta crisis, divisiones o persecuciones.
9. Vivir la perseverancia en la cotidianidad significa vivir la fe como un camino continuo, y no como un momento aislado. El discípulo no es quien comienza, sino quien permanece. La perseverancia se expresa en actitudes concretas. En la oración, perseverar es rezar incluso cuando parece que Dios guarda silencio, manteniendo la confianza de que Él nos escucha (cf. Lc 18,1). En la caridad, perseverar es amar de manera constante, incluso cuando el amor no es correspondido, pues el amor cristiano refleja el amor de Cristo, que no desiste de nosotros. En la comunidad, perseverar es permanecer unidos a la Iglesia, incluso ante debilidades humanas y escándalos, porque es en ella donde Cristo sigue actuando y salvando. En la esperanza, perseverar es mantener viva la certeza de que el bien tiene la última palabra, incluso en medio de las tribulaciones de la historia.
10. La perseverancia no es ausencia de caídas, sino la capacidad de levantarse siempre; el cristiano no es quien nunca cae, sino quien siempre se levanta, confiando en la misericordia de Dios. Queridos hermanos, la perseverancia es camino de santidad y garantía de salvación. El Señor nos advierte: muchos pueden comenzar el camino de la fe, pero solo quienes permanecen hasta el fin recogerán la plenitud de la vida. No se trata de miedo, sino de responsabilidad y confianza.
11. El tiempo actual nos desafía: vivimos en un mundo marcado por la prisa, lo desechable y lo efímero. Todo parece pasajero, y muchos abandonan el camino ante las primeras dificultades. Por eso, perseverar es un testimonio “contracultural”: afirmar que el amor de Dios es firme y que vale la pena permanecer en Él hasta el fin.
12. Que cada cristiano asuma el compromiso de pedir diariamente la gracia de la perseverancia. Que cada comunidad se convierta en un lugar de apoyo, de aliento y de esperanza, donde nadie se sienta solo en su camino. Y que, sostenidos por la Palabra, la Eucaristía y la comunión fraterna, podamos perseverar hasta el día en que, unidos a los santos, contemplemos al Señor cara a cara.
13. Dejémonos guiar por la promesa del Evangelio: “El que persevere hasta el fin, éste será salvo” (Mt 24,13). No nos desanimemos ante las pruebas, no cedamos a la tentación de abandonar, sino mantengamos los ojos fijos en Jesús, que es nuestra esperanza. En Él encontraremos la fuerza para permanecer, la alegría de esperar y la certeza de la salvación.

BENEDICTUS PP. VIII
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[1] AGOSTINHO, Santo. A perseverança final. São Paulo: Paulus, 2000.
[2] BENTO XVI. Jesus de Nazaré. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2007.
[3] BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: edição pastoral. Tradução da CNBB. 10. ed. São Paulo: Paulus, 2019.
[4] CIPRIANO DE CARTAGO. A unidade da Igreja. São Paulo: Paulus, 1998.
[5] CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática Lumen Gentium. In: DOCUMENTOS do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2007.
[6] FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulinas, 2013.
[7] IRINEU DE LIÃO. Contra as heresias. São Paulo: Paulus, 2011.
[8] JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici. São Paulo: Paulinas, 1988.
[9] RAHNER, Karl. Curso fundamental da fé. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2004.