1. A Igreja, como uma instituição religiosa e social, tem uma história rica e complexa que se estende por séculos. Em sua jornada, enfrentou desafios, transformações e adaptações, refletindo as mudanças e as necessidades das pessoas ao longo do tempo. A expressão "peregrina", muitas vezes usada para descrever a Igreja, sugere essa ideia de uma caminhada contínua, uma jornada em movimento que exige constante aggiornamento, ou seja, atualização.
2. Ao considerar a natureza peregrina da Igreja, é fundamental reconhecer que ela existe em um mundo em constante evolução. As sociedades, culturas, e até mesmo as compreensões sobre espiritualidade e religião, estão sempre em fluxo. Portanto, a Igreja, se quiser permanecer relevante e eficaz em seu papel de orientar e nutrir as pessoas espiritualmente, precisa se adaptar a essas mudanças.
3. O aggiornamento permanente, termo popularizado pelo Concílio Vaticano II, implica uma abertura para o diálogo com os desafios e as realidades do mundo contemporâneo. Isso não significa comprometer os princípios fundamentais da fé, mas sim reinterpretá-los à luz das necessidades e compreensões do presente. Assim como um peregrino ajusta sua rota conforme as circunstâncias, a Igreja também deve ajustar sua abordagem para melhor servir às pessoas em sua jornada espiritual.
4. Esse processo de aggiornamento não é simples nem estático. Requer discernimento, reflexão e, às vezes, até mesmo a superação de resistências internas. No entanto, é essencial para que a mensagem e a missão da Igreja continuem a ressoar de forma significativa nas vidas das pessoas. A história mostra que as épocas de maior vitalidade da Igreja são aquelas em que ela se engaja ativamente com o mundo ao seu redor, respondendo aos desafios e buscando formas criativas de expressar sua fé.
5. A reflexão sobre a natureza da Igreja como uma realidade em constante movimento e evolução é essencial para compreender sua missão e propósito no mundo. Embora seja uma instituição fundada na mensagem e nos ensinamentos de Jesus Cristo, é importante reconhecer que a Igreja é formada por seres humanos, sujeitos a falhas e limitações. Igreja não é uma realidade acabada, divina ou perfeita, reconhecemos sua humanidade e sua capacidade de crescer, aprender e se desenvolver ao longo do tempo. Isso não diminui sua importância ou sua conexão com a divindade, mas nos lembra que ela está inserida na história e na realidade terrena.
6. Ao mesmo tempo, ao reconhecer a necessidade de olhar sempre para suas raízes em Jesus Cristo, afirmamos a centralidade de sua mensagem de amor, compaixão e justiça. Jesus é o fundamento sobre o qual a Igreja se constrói, e suas palavras e ações continuam a ser uma fonte de inspiração e orientação para os fiéis. Essa conexão com Jesus e seus ensinamentos serve como um guia constante para a Igreja em sua jornada. Ao voltar-se para suas raízes, a Igreja renova seu compromisso com os valores do Evangelho e se mantém fiel à sua missão de proclamar o Reino de Deus na terra.
7. Essa verdade, que se estende desde os primeiros dias do Cristianismo até os dias atuais e além, é uma âncora para a Igreja em meio às mudanças e desafios do mundo. Ela nos lembra que, embora as formas e expressões da Igreja possam mudar, sua essência permanece a mesma: um chamado para viver em comunhão com Deus e com o próximo, seguindo o exemplo de Jesus Cristo.
Reconhecer que vivemos em tempos novos
8. A complexidade e diversidade da sociedade contemporânea exigem uma resposta adaptativa por parte da Igreja, uma capacidade de se reinventar e se posicionar de maneira relevante diante das questões e dilemas do mundo atual.
9. A ideia de regressar à condição de peregrina é poderosa, pois sugere uma atitude de humildade e abertura por parte da Igreja. Em vez de adotar uma postura triunfalista, na qual se considera detentora exclusiva da verdade e da salvação, a Igreja é chamada a reconhecer sua própria humanidade e imperfeição, a caminhar ao lado das pessoas em suas jornadas espirituais e existenciais.
10. Nesse contexto, apresentar-se como serviço é fundamental. Em vez de se concentrar em si mesma e em seus próprios interesses, a Igreja é convidada a se voltar para o mundo, a servir às necessidades das pessoas e a ser uma presença de amor, compaixão e justiça. Isso implica uma mudança de paradigma, na qual a Igreja não busca impor suas próprias opiniões ou dogmas, mas sim oferecer-se como um instrumento de ajuda e apoio para aqueles que buscam orientação espiritual e significado em suas vidas.
11. Essa abordagem não significa abandonar os princípios fundamentais da fé, mas sim expressá-los de maneira autêntica e relevante para as pessoas de hoje. É um convite para a Igreja se engajar de forma ativa e construtiva com as questões e desafios do mundo contemporâneo, oferecendo uma mensagem de esperança e transformação em meio às incertezas e instabilidades da vida moderna.
12. Em última análise, a chamada para a Igreja regressar à sua condição de peregrina é um convite para uma renovação espiritual e uma redescoberta de sua vocação original como comunidade de fé chamada a seguir os passos de Jesus Cristo. É um lembrete de que a verdadeira grandeza da Igreja reside em sua capacidade de servir e amar, em sua humildade e em sua disposição de caminhar ao lado daqueles que buscam o caminho da verdade e da vida.
13. Portanto, a Igreja, como peregrina, está sempre em busca de uma compreensão mais profunda e autêntica de sua vocação. Ela é chamada a caminhar ao lado das pessoas, compartilhando suas alegrias e esperanças, suas tristezas e angústias. E essa jornada só pode ser verdadeiramente significativa se for marcada por um aggiornamento permanente, que permita à Igreja traduzir sua mensagem intemporal em linguagem e ações que ressoem com as necessidades e aspirações de cada época.
Perfil Aggiornato
14. A pessoa deve ter uma fé sólida e profunda, enraizada nos princípios do Evangelho e na tradição da Igreja, demonstrada através de uma vida de oração, estudo e prática espiritual. Deve ter um compromisso inequívoco com o serviço aos outros, especialmente aos mais vulneráveis e marginalizados da sociedade, buscando promover a justiça social, a solidariedade e o cuidado com o próximo.
15. Deve possuir habilidades excepcionais de comunicação e ser capaz de se expressar de forma clara, empática e autêntica, além de ser um ouvinte atento e receptivo ao diálogo com uma ampla gama de pessoas e grupos dentro da Igreja e além dela. Valorizar a diversidade de experiências, culturas e perspectivas dentro da comunidade cristã, promovendo um ambiente de inclusão, respeito mútuo e diálogo inter-religioso e intercultural. Ser uma pessoa humilde, aberta ao aprendizado e disposta a se adaptar às mudanças e desafios do mundo contemporâneo, buscando constantemente formas criativas de expressar e viver a mensagem do Evangelho em novos contextos e situações.
16. Deve ter um forte compromisso com a unidade da Igreja, promovendo a reconciliação, a fraternidade e a cooperação entre seus membros, e trabalhando ativamente pela paz e pela justiça em todas as esferas da sociedade e ser um exemplo de vida cristã, vivendo de acordo com os valores do Evangelho e inspirando os outros por meio de suas palavras e ações, demonstrando amor, compaixão, humildade e serviço desinteressado em tudo o que faz.
Conclusão
17.A Igreja, ao abraçar sua natureza peregrina, reconhece sua posição em um mundo em constante evolução. Este reconhecimento implica um compromisso contínuo com o aggiornamento, uma atualização constante que não compromete os princípios fundamentais da fé, mas os adapta à realidade em mudança. Esse processo não é apenas uma necessidade, mas uma oportunidade para a Igreja se manter relevante e eficaz em sua missão de orientar e nutrir espiritualmente as pessoas. Além disso, a Igreja, ao se apresentar como serviço, busca atender às necessidades do mundo, oferecendo amor, compaixão e justiça. Isso requer uma abertura para o diálogo, um compromisso com a inclusão e um esforço contínuo para viver os valores do Evangelho de forma autêntica. Portanto, o perfil aggiornato de uma pessoa na Igreja reflete não apenas uma fé sólida, mas também um compromisso com o serviço, a comunicação eficaz, a adaptação às mudanças e a promoção da unidade e da paz.
Em espírito de alegria e esperança, sigamos adiante, cumprindo nossa missão com fé e amor.
Com profunda gratidão e carinho, Ave Maria e avante.
